terça-feira, 20 de outubro de 2015

O Preço - Anderson Dagen

Já era tarde da noite quando Ricardo olhou para as horas em seu relógio de parede depois de horas lendo e refletindo. Sentado na sacada de seu apartamento, percebia a cidade calma. Ficou ali admirando as silhuetas dos antigos prédios da cidade. As sacadas desenhadas, as janelas com acabamentos decorativos. Eram todos bonitos, porém esquecidos. Pensava em quantas histórias eles podiam ter. Pensava na frieza das pessoas em não pensar assim. Bebeu seu último gole de vinho que estava em sua caneca especial de leitura e levantou. Ouviu alguns ossos estralarem. Quanto tempo havia ficado ali mesmo? Olhou para o relógio novamente e o espanto de ver que já se passavam das 3 da manhã. Olhou novamente o semblante da cidade que parecia lhe dar boa noite e virou devagar para o lado da porta. Foi então que, pelo canto do olho viu algo diferente naquela fria e escura noite de outono. Algo que não combinava com nada ao seu redor. Pareciam fadas dançando no breu da noite, ou apenas bolas de luzes flutuando e sendo levadas pelo vento (um fato apenas para esclarecer, naquela noite não ventava). Lembrou-se da história do Peter Pan, Mas não tinha bebido tanto vinho a ponto de crer em algo assim.
 Ricardo então esfregou os olhos, como se faz quando recém acorda e a vista fica embaralhada. Mas elas estavam ali, bem ali. Pareciam vivas, e se movimentavam em espirais pelo ar logo a frente do prédio vizinho. Entrou depressa no quarto, vestiu o casaco e desceu. Nem trancou a porta de tão apressado que estava. Saindo do seu prédio, virou a esquina para ver se ainda estavam ali, mas nada. Nenhuma fada ou luz brilhante no céu. Sentiu o vento frio da madrugada entrando pela gola do casaco. Olhou em volta e nada, apenas uma janela do prédio com luzes acesa. Seria um devaneio de sua mente? mais uma das tantas peças que ela lhe pregava.
 Ricardo estava confuso, com frio e ao mesmo tempo entusiasmado. Sempre fora curioso com tudo. Queria saber se o que tinha visto era verdade. Caminhou em direção do prédio vizinho, olhando para cima. Se alguém o avistasse daquele jeito diria que estava caçando óvnis. Mas nada avistou. Olhou para os lados e viu somente as ruas desertas. Já estava voltando cabisbaixo quando de repente algo molhado tocou sua nuca. Era um pingo gelado. Olhou para cima e quase não acreditou no que viu. Era uma chuva de bolas de sabão. Todas coloridas e brilhantes refletindo as luzes amarelas dos postes. Ouviu risadas e percebeu que numa sacada logo acima estavam duas meninas em cima de um banquinho soprando as bolinhas em sua direção. Ricardo apenas sorriu e devolveu as risadas.
 Ficou ali alguns minutos observando elas quando de repente da sacada desceu um avião de papel que pousou perto de Ricardo. Ele caminhou até lá e desfez as dobras. Estava escrito: Mesmo nas trevas existem cores. e no verso do papel um "boa noite".

 Olhou para cima, a sacada estava vazia. As luzes apagadas. Era isso. Sentia algo dentro do peito que não sabia dizer o que era. Voltou para o apartamento com o avião de papel em mãos. Sentia que depois que acordasse no outro dia não saberia se aquilo teria sido um sonho ou algo real.  

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